Existem muitas variedades de feijão, mas sempre é possível aparecer alguma surpresa. Alguns grãos foram enviados pelo seu José Geraldo Silva, de Lamim, em Minas Gerais.
Ele conta que os moradores da cidade vêem nos grãos a imagem do divino Espírito Santo e quer saber se é um milagre. Nada melhor do que responder a carta neste domingo que é dia do divino Espírito Santo. Vamos começar visitando o próprio seu José Geraldo.
Lamim é uma cidadezinha sossegada, com pouco mais de três mil habitantes. Como dá pra ver logo na entrada da Igreja Matriz o Divino Espírito Santo é padroeiro do município.
A família de seu José Geraldo mora em uma casa a poucos metros do centro da cidade.
Seu José Geraldo quer logo nos mostrar o feijão que colheu na última safra. "Isso aqui está começando a nascer, que eu plantei esses dias. Aqui tem o feijão verde que arrancou antes de acabar de secar. E tem o feijão seco e o feijão onde tem a imagem do Espírito Santo", diz ele.
A figura da pomba que representa o Espírito Santo se forma em manchas vermelhas ao redor do ponto onde o feijão fica preso à vagem e aparece em todos os grãos.
"Esse feijão a gente tem desde criança. Avós, pais, foi passando de geração para geração. Todo ano eu planto, mas eu nunca consegui colher uma quantia assim que dê pra ... Não é todo pé que dá. A gente planta e metade ou mais morre. Não vai pra frente. O Espírito Santo não deixou a sua imagem pra gente ter lucro vendendo, mas sim pra conservar a atenção", diz ele.
"Esse feijão às vezes a gente cozinha e faz uma salada, mas é pra distribuir e propagar a fé", diz dona Rosalva, esposa de seu José Geraldo.
Na cidade, corre a história de que o feijão surgiu por milagre em 1801. Ela está relatada no texto de um autor local, escrito a mão, em 1899. Um agricultor muito pobre teria sido escolhido para organizar a festa do Divino. Como não tinha dinheiro, fez pedido ao Espírito Santo pra colher uma boa safra de feijão e conseguir pagar as despezas. A graça foi alcançada e parte do feijão nasceu com a pomba estampada nos grãos. "O que a gente tem aqui pra nós é um milagre, mas hoje a ciência pode nos provar que noutro país, noutro lugar existe também, porque a gente não vê no mercado", diz seu José Geraldo.
Pra responder a dúvida do seu Geraldo, o Ivaci Matias foi consultar especialistas da Embrapa de arroz e feijão em Goiânia.
O Jaime Fonseca vai nos dizer que feijão é esse aqui.
O Senhor já tinha visto um feijão com a marca do Divino? O senhor acha que é milagre?
A ciência tem uma explicação para isso. Agora, se é milagre ou não vai de acordo com a crença de cada um.
Qual a explicaçào científica?Imagine o seguinte: esse material, pelo que se tem conhecimento, foi implantado há muito tempo. então pode ser que no passado esse material de cor branca tenha sido plantado próximo a uma variedade vermelha e pode ter havido um cruzamento natural provocado por inseto ou por vento.
Curioso, que a imagem da pomba se repete de maneira muito igual.
Isso é comum. Em nosso acervo, aqui da Embrapa, temos muitas amostras com mancha diferentes com formato de um animal, um ovo de pomba, então é muito possível, a possibilidade de figuras acontece, é muito freqüente.
Qual a recomendaçào que o senhor dara para os produtores de Lamim?
Que continuem plantando porque é um material tradicional muito antigo, muito importante para pesquisa e não se pode perder a raça desse material.
O senhor se interessaria em receber esse material?Perfeitamente. Até porque nós temos um programa de melhoramento da Embrapa e que vai pesquisar esse material para ver o que ele tem de importante e vai ficar preservado por muito tempo até projetar para o futuro.
Seu José Geraldo, pelo que o senhor viu aí, essa variedade pode qualidades ainda desconhecidas e no futuro servir para o melhoramento de outros feijões. Por isso, ela deve ser preservada com técnica, carinho e por que não com a fé de quem vê os sinais divinos na semente.
Fonte: Globo Rural em 11.05.2008
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