
Esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas, sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.
Mãos que jamais calçaram luvas.
Nunca para elas o brilho dos anéis.
Minha pequenina aliança.
Um dia o chamado heróico emocionante:
- Dei Ouro para o Bem de São Paulo.
Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderamroupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia, do arroz e do feijãoda sua casa.
Do tacho de cobre.
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras...
Jamais ociosas.
Fecundas.
Imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar, ajudar, unir e abençoar.
Mãos de semeador...
Afeitas à sementeira do trabalho.
Minhas mãos raízesprocurando a terra.
Semeando sempre.
Jamais para elasos júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas, feridas na remoção de pedras e tropeços, quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher,
que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar.
Sozinha a procuraro ângulo prometido, a pedra rejeitada.
(Cora Coralina)